quinta-feira, 17 de março de 2016

O HOMEM RADICAL


“Um radical é um homem com os
Pés firmemente plantados no ar.”
I. NEWTON

O livre-arbítrio dá-nos asas para voar. A vontade transporta-nos para além do imediato. Sem a liberdade seriamos como prisioneiros na caverna de Platão. Numa palavra, entramos no domínio do abstracto, do inteligível. Como é isso possível, sendo nós corpo e sentidos?

Em primeiro lugar devemos assumir a nossa autonomia. Sapere aude! Devemos ousar pensar por nós próprios. Esta é a primeira condição para ir além do óbvio e do imediato. Aquele que não tem autonomia fica agrilhoado aos seus sentidos. Não tem as asas do livre-arbítrio.

Depois, deve assumir a sua radicalidade. O carácter radical do homem decorre do facto de este se colocar numa posição que vai à raiz, que procura fundamentos últimos da realidade. Ora essa radicalidade transporta-nos para além de uma realidade que se limita à condição de prisioneiro na caverna.

Newton, estudioso dos fenómenos celestes, soube ver mais além. E por isso teve autonomia e radicalidade. É certo que sofreu a força da gravidade quando a maçã lhe caiu na cabeça. Mas os seus pés estavam firmemente plantados no ar. Não há gravidade que corte a raiz ao pensamento.


O que está em mim nunca poderá anular a radicalidade de procurar o está acima de mim!

sábado, 12 de março de 2016

Acerca da indisciplina na Escola. Sofia Canha, Deputada.

Vou permitir-me ser politicamente incorreta. Normalmente há grandes pruridos em falar de indisciplina nas escolas e assumi-la como um verdadeiro problema com todas as consequências que daí advêm. Esta questão nunca é verdadeiramente discutida nas escolas, porque não se assume como um problema da escola, mas sim do professor.
Desviou-se a questão para a natureza psicológica do professor, em vez de se assumir como um problema da escola e da sociedade e, assim, se dar instrumentos claros, precisos e justos, de regulação. Fazer depender a gestão da indisciplina na aula unicamente das características pessoais e do perfil do professor, não só é errado como pernicioso. A principal função do professor é mediar a aprendizagem dos alunos, mediante os conteúdos programáticos que, formal ou informalmente, constam do programa e/ou do projeto educativo. E é precisamente esta função que, não raras vezes, acaba por ser secundarizada, perante situações disruptivas constantes, que desviam a atenção do professor da sua principal função.
A relação pedagógica deve assentar no respeito mútuo, tendo por base as condições para o pleno exercício das funções e papéis que cabem a cada um: ensinar/educar e aprender/educar-se. O professor ao longo de 90 minutos aciona constantemente o sistema límbico (responsável pelas emoções) e o reptiliano (instinto, segurança), devido às diversas situações e problemas que ocorrem na aula, significando que nem sempre está concentrado e focalizado naquele que deveria ser o seu conteúdo funcional. Esta intermitência causa uma grande pressão que, a longo prazo, acarreta graves prejuízos para a saúde do docente e compromete o processo de ensino-aprendizagem.
Todos aqueles chavões que, de repente, se começaram a atribuir ao professor (gestor de conflitos, gestor de emoções, promotor de afetos, entre outros) transformaram-no num super-herói, capaz de assumir uma amálgama de papéis. E a sociedade agradece, as famílias agradecem, o sistema agradece, pois, ao delegar-se neste super-herói a tarefa de fazer tudo o que é da sua responsabilidade e tudo o que não deveria ser, a sociedade, a família e o sistema “lavam as suas mãos”… E pior do que isso, responsabilizam a escola e, em última instância, os professores.
Na generalidade das salas de aula, em Portugal, gerem-se comportamentos e situações de conflito, quando sedeveriam gerir aprendizagens.Ou seja, são tantos os fatores de dispersão que a aprendizagem e o conhecimento ficam secundarizados. É aqui que as escolas privadas ganham terreno e se diferenciam (selecionando os alunos também pelos padrões de comportamento e com autonomia para definirem as regras de conduta e eventuais sanções que, na Escola Pública, seriam inaceitáveis).
Por outro lado, a cultura do prazer que se instalou na sociedade pós-moderna, influenciada pelas correntes humanistas mais fundamentalistas, fez emergir algumas teorias sobre o papel da escola, algumas excessivamente românticas (“a escola deve servir para as crianças serem felizes”, “educar para a felicidade”, entre outras), que têm contribuído para uma maior naturalização dos “maus comportamentos”. Não consta que pessoas educadas em ambientes mais disciplinadores (não confundamos com repressores) sejam pessoas piores, com menos sentido crítico, menos educadas e menos sensíveis.
A escola e os professores têm um papel fundamental no desenvolvimento dos indivíduos e na diminuição das assimetrias socioculturais. Mas é necessário que todos (escola, família e sociedade) tenham consciência do seu papel, relativamente à formação integral dos alunos, filhos, cidadãos.
Sofia Canha - Deputada do PS no Parlamento da Madeira

sábado, 5 de março de 2016

David Hume

«Os filósofos que se dão ares de superior sabedoria e confiança têm uma dura tarefa quando se encontram com pessoas de feitio inquiridor, que os expulsam de todos os cantos onde se refugiam e não podem deixar de acabar por os fazer cair em algum dilema perigoso. O melhor expediente para evitar esta confusão é sermos modestos nas nossas pretensões, e até sermos nós mesmos a apontar as dificuldades antes de elas serem apresentadas como objeções contra nós. Podemos por este meio converter nossa a própria ignorância numa espécie de mérito.»
David Hume, Tratados I: Investigação sobre o Entendimento Humano, tradução de João Paulo Monteiro, Lisboa, INCM, 2002, pág. 48.