domingo, 28 de setembro de 2008

RESILIÊNCIA

O termo resiliência tem origem na Física e designa a resistência do material aos choques e à capacidade de uma estrutura absorver a energia cinética do meio sem romper. O termo foi aplicado em Psicologia, a partir da década de 80 do século XX, para designar os indivíduos que recuperam as suas energias depois de terem sofrido uma depressão. Hoje em dia, a expressão resiliência aplica-se fundamentalmente às crianças e jovens que crescem em ambientes de privação e risco e que conseguem ultrapassar eficazmente os traumas vividos, fugindo ao ciclo de violência e fatalismo.

A resiliência não é inata; é um processo, não um estado e, por isso, uma pessoa pode ser mais resiliente num momento da vida do que noutro. Pode afirmar-se que a resiliência emerge da interacção entre factores ambientais, comportamentais e pessoais. Neste sentido, as expectativas, crenças e competências cognitivas dos jovens desenvolvem-se através da interacção com factores estruturais e sociais do seu ambiente, em particular através da modelação dos comportamentos dos outros, da instrução ou da persuasão social produzida pela pressão do grupo de pares.

As investigações relativas à resiliência admitem que praticamente todas as pessoas estão sujeitas a adversidades e a factores de stress e também que há, potencialmente, muitos factores que podem contribuir para a forma como elas lidam com estas experiências. Se uma pessoa é, ou não, bem sucedida em revelar resiliência face a desafios significativos, tal pode ser entendido como resultado da interacção entre factores benéficos e desfavoráveis. O fenómeno da resiliência mostra o quanto é importante ter em conta o contexto assim como o indivíduo situado. Demonstra também que é importante ter em consideração a dimensão do ajuste particular entre cada pessoa e o seu ambiente.

Geralmente, os investigadores identificam alguns factores que designam por “factores de protecção”: individuais, familiares e extra familiares. Os primeiros são características como a inteligência, a auto-estima, a autonomia e o humor. Quanto à família, designadamente os pais, são elementos que permitem resistir melhor às situações traumáticas. No entanto, os pais podem ser substituídos por um adulto significativo. Outros factores identificados são a escola ou os encontros com pessoas significativas. No fundo, é o conjunto das defesas que permitirá à criança ou ao jovem elaborar comportamentos que lhes permitam tornar-se resilientes.

Um outro elemento importante a considerar, quando se procura compreender o fenómeno da resiliência, é que esta é um processo activo. Significa isto que as pessoas resilientes são as que conseguem agir nos e sobre os seus contextos de forma a protegerem-se das consequências adversas que a presença de determinados factores poderiam trazer consigo. Em conclusão, o conceito de resiliência descreve a capacidade encontrada por algumas pessoas de encontrarem forças e recursos no seu mundo pessoal que lhes permitem enveredar por trajectórias desenvolvimentais adaptativas e positivas, mesmo em condições adversas, como Anne Frank ou Helen Keller.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

OSTEOPATIA

A Osteopatia foi estabelecida como sistema de medicina na segunda metade do século XIX, quando Andrew Taylor Still, desiludido com a medicina convencional alopática, se interessou pelo desenvolvimento de um sistema de medicina que pudesse estimular os mecanismos auto-reguladores do próprio corpo. Neste sentido, ele considerava que o equilíbrio das estruturas era essencial para evitar o aparecimento de disfunções e doenças.

Actualmente, e de acordo com a Organização Mundial de Saúde no Documento Estratégia da OMS acerca da Medicina Tradicional 2002-2005, a expressão “medicina tradicional “ (MT) é utilizada quando se refere a África, América Latina, Sudeste Asiático e Pacífico Ocidental, reservando a expressão “medicina complementar e alternativa” (MCA) quando se faz referência à Europa, América do Norte e Austrália. Quando se refere a todas estas regiões usa-se a abreviatura MT/MCA.

A Osteopatia é um sistema de medicina complementar, cujo estudo inclui a biomecânica e a cinética além da anatomia e da fisiologia. A sua filosofia de base incide no restabelecimento da função e mobilidade do sistema Esquelético-Muscular. Além disso, porque é uma terapia holística, a osteopatia devolve o equilíbrio postural e trata o corpo como um todo. O seu tratamento baseia-se na manipulação, massagem e estimulação neuromuscular, sendo uma terapia essencialmente manual.

O princípio fundamental da osteopatia é que estrutura e função estão inter-relacionadas. Por estrutura pretende-se significar o corpo inteiro. Deste princípio resulta que o corpo é uma unidade e que qualquer estrutura ou função anormais numa das suas partes exerce uma influência anormal sobre as outras. A este tipo de abordagem chama-se holismo. O tratamento osteopático deve necessariamente seguir esta abordagem.

A osteopatia oferece bons resultados no tratamento de inúmeros problemas da coluna vertebral, mas considera igualmente importantes outros sistemas, com destaque para o sistema circulatório, visto que o sangue distribui nutrientes e oxigénio às células, ao mesmo tempo que remove as toxinas e os resíduos – a chave para uma óptima função celular.

O tratamento osteopático é igualmente eficaz nas dores musculares e articulares. De acordo com as estatísticas, este tipo de dores representa 70% dos sintomas que levam os doentes a consultas no respectivo médico de família. A osteoartrose, por exemplo, é das doenças reumáticas que afecta 20% da população em Portugal, sendo uma das principais causas de incapacidade para o trabalho.

Tendo presente que estes tipos de dores e de restrições à mobilidade são, em geral, devidas a alterações de cariz biomecânico, então podemos afirmar que a osteopatia tem uma actuação privilegiada. O tratamento osteopático contribui para a redução da dor e rigidez nas fases agudas da artrite, ajuda a manter a mobilidade, independência e bem-estar em geral e estimula os mecanismos auto-reguladores dos órgãos internos. Quando praticada por terapeutas com formação adequada, a osteopatia é totalmente segura.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

MEDO

Muitas vezes ouvimos as pessoas dizerem: “Não tenhas medo!” Outras, levando o assunto ainda mais longe dizem: “O medo é para os fracos!”. É sabido que alguns povos incitam os seus membros a não terem medo, sendo isso uma marca distintiva que os torna superiores. Veja-se o caso de Esparta na Antiguidade Clássica. A antropóloga Ruth Benedict criou, inclusive, uma conceptualização baseada na mitologia grega, para definir culturas tão distintas como a apolínea (de Apolo), mais pacífica, e a dionisíaca (de Dionísio), mais guerreira. Perante este enquadramento, impõe-se uma pergunta: afinal o que é e para que serve o medo?

A perspectiva evolutiva acerca das emoções distingue seis emoções primárias: alegria, tristeza, surpresa, cólera, desgosto e medo. As emoções primárias são inatas, correspondendo a uma espécie de equipamento básico, útil para os seres vivos reagirem ao meio de forma mais ou menos automática. Por isso, este tipo de emoções provoca alterações corporais, aliás bem típicas na situação de medo. Estas emoções têm tendência para a generalidade ou universalidade, isto é, têm que ser praticamente as mesmas em todas as pessoas das diferentes culturas. Além disso, sendo inatas, têm que aparecer muito cedo na vida dos indivíduos, não dependendo da aprendizagem.

Os comportamentos emocionais são distintos dos cognitivos. Trata-se do campo da afectividade que engloba um vasto conjunto de fenómenos psicológicos, tais como afectos, sentimentos ou emoções. Podemos definir afecto como o estado psicológico elementar, que nos permite apreciar os mais diversos aspectos da realidade em termos de agradável e desagradável, pelo que manifesta desejos de aproximação ou repulsa. A emoção é uma reacção fisiológica curta e intensa do organismo a um acontecimento inesperado, que é acompanhada de uma totalidade afectiva agradável ou desagradável.

Qualquer que seja a emoção, faz-se acompanhar de reacções fisiológicas. As referidas reacções dependem, em grande parte, do Sistema Nervoso Autónomo. Este, através da sua secção simpática, mobiliza os recursos do corpo, preparando-o para acção. Estas reacções fisiológicas são involuntárias e manifestam-se num aumento do ritmo cardíaco e subida da pressão sanguínea. Outras reacções são inibir a secreção salivar, estimular a transpiração, dilatar as pupilas, além de estimular o fígado a libertar açúcar no sangue e as glândulas supra-renais a produzir adrenalina.

O sistema nervoso central participa nos comportamentos emotivos, sobretudo por acção do sistema activador reticular (S.A.R.) e do sistema límbico. Assim, o S.A.R. avalia a informação sensorial, chamando a atenção do córtex para o que é susceptível de desencadear emoções. O sistema límbico, especialmente através do hipotálamo, activa o sistema simpático para desencadear as alterações fisiológicas imprescindíveis à defesa orgânica em estados de emergência. O córtex cerebral também intervém, mas de preferência nas emoções secundárias, que implicam aprendizagem e controlo racional. Ainda considera que o medo é coisa de fracos?

domingo, 7 de setembro de 2008

EMOÇÕES e SENTIMENTOS

Segundo António Damásio, “a evolução parece ter construído a maquinaria da emoção e sentimento às prestações”: primeiro as emoções e só mais tarde os sentimentos. Esta construção faseada das reacções afectivas corresponde a funções diferenciadas de cada um destes mecanismos. Esta posição de Damásio levanta alguns problemas. Desde logo o papel da evolução na complexificação cerebral mas também o papel das reacções afectivas na nossa condição de seres racionais por excelência, concretamente na diferenciação entre emoção e sentimento e respectivos papéis na formação da mente humana.

António Damásio utiliza o seguinte critério: chamar às emoções “iniciais” primárias e às emoções “adultas” secundárias. Deste modo, as emoções primárias são inatas; o desenrolar automático destas emoções é da incumbência do sistema límbico, nada tendo a ver com decisões tomadas a nível do córtex cerebral. As emoções secundárias ou sentimentos envolvem uma avaliação cognitiva dos acontecimentos, implicando associações com determinados estímulos e aprendizagens anteriores; exigem a participação do córtex pré-frontal, particularmente das áreas do lado direito.

Qualquer que seja a emoção, faz-se acompanhar de reacções fisiológicas. As referidas reacções dependem, em grande parte, do Sistema Nervoso Autónomo. Este, através da sua secção simpática, mobiliza os recursos do corpo, preparando-o para a acção. Estas reacções fisiológicas são involuntárias e manifestam-se num aumento do ritmo cardíaco e subida da pressão sanguínea. Outras reacções são inibir a secreção salivar, estimular a transpiração, dilatar as pupilas, além de estimular o fígado a libertar açúcar no sangue e as glândulas supra-renais a produzir adrenalina.

Mas, para além de processos fisiológicos e emocionais, a mente engloba processos conativos, associados à tendência do ser humano para agir deliberadamente. Podemos definir os processos conativos como fenómenos mentais que impulsionam o ser humano para a realização de acções deliberadas e intencionais, o que significar dizer que a conação se restringe aos actos resultantes das decisões humanas, excluindo todos os que são praticados de modo involuntário. Deste modo, a acção humana é caracterizada como intencional e voluntária, aspecto que nos conduz ao papel da evolução na complexificação cerebral.

O processo de desenvolvimento do cérebro está ligado ao retardamento ontogenético, isto é, ao prolongamento do período da infância e da adolescência. Pode dizer-se que conhecer bem o cérebro implica uma visão da lenta evolução da espécie, dando atenção a aspectos que atestam a presença do passado ainda em nós. Paul MacLean apresentou a tese triúnica do cérebro, segundo a qual o homem actual apresenta três cérebros num só, correspondendo cada um a dada fase evolutiva das espécies. O cérebro neomamífero, último estrato da evolução, está particularmente desenvolvido no ser humano, o que lhe permite aprendizagens complexas, como a linguagem ou o pensamento simbólico e reflexivo. Justifica-se assim a evolução faseada das reacções afectivas.