quinta-feira, 11 de setembro de 2008

MEDO

Muitas vezes ouvimos as pessoas dizerem: “Não tenhas medo!” Outras, levando o assunto ainda mais longe dizem: “O medo é para os fracos!”. É sabido que alguns povos incitam os seus membros a não terem medo, sendo isso uma marca distintiva que os torna superiores. Veja-se o caso de Esparta na Antiguidade Clássica. A antropóloga Ruth Benedict criou, inclusive, uma conceptualização baseada na mitologia grega, para definir culturas tão distintas como a apolínea (de Apolo), mais pacífica, e a dionisíaca (de Dionísio), mais guerreira. Perante este enquadramento, impõe-se uma pergunta: afinal o que é e para que serve o medo?

A perspectiva evolutiva acerca das emoções distingue seis emoções primárias: alegria, tristeza, surpresa, cólera, desgosto e medo. As emoções primárias são inatas, correspondendo a uma espécie de equipamento básico, útil para os seres vivos reagirem ao meio de forma mais ou menos automática. Por isso, este tipo de emoções provoca alterações corporais, aliás bem típicas na situação de medo. Estas emoções têm tendência para a generalidade ou universalidade, isto é, têm que ser praticamente as mesmas em todas as pessoas das diferentes culturas. Além disso, sendo inatas, têm que aparecer muito cedo na vida dos indivíduos, não dependendo da aprendizagem.

Os comportamentos emocionais são distintos dos cognitivos. Trata-se do campo da afectividade que engloba um vasto conjunto de fenómenos psicológicos, tais como afectos, sentimentos ou emoções. Podemos definir afecto como o estado psicológico elementar, que nos permite apreciar os mais diversos aspectos da realidade em termos de agradável e desagradável, pelo que manifesta desejos de aproximação ou repulsa. A emoção é uma reacção fisiológica curta e intensa do organismo a um acontecimento inesperado, que é acompanhada de uma totalidade afectiva agradável ou desagradável.

Qualquer que seja a emoção, faz-se acompanhar de reacções fisiológicas. As referidas reacções dependem, em grande parte, do Sistema Nervoso Autónomo. Este, através da sua secção simpática, mobiliza os recursos do corpo, preparando-o para acção. Estas reacções fisiológicas são involuntárias e manifestam-se num aumento do ritmo cardíaco e subida da pressão sanguínea. Outras reacções são inibir a secreção salivar, estimular a transpiração, dilatar as pupilas, além de estimular o fígado a libertar açúcar no sangue e as glândulas supra-renais a produzir adrenalina.

O sistema nervoso central participa nos comportamentos emotivos, sobretudo por acção do sistema activador reticular (S.A.R.) e do sistema límbico. Assim, o S.A.R. avalia a informação sensorial, chamando a atenção do córtex para o que é susceptível de desencadear emoções. O sistema límbico, especialmente através do hipotálamo, activa o sistema simpático para desencadear as alterações fisiológicas imprescindíveis à defesa orgânica em estados de emergência. O córtex cerebral também intervém, mas de preferência nas emoções secundárias, que implicam aprendizagem e controlo racional. Ainda considera que o medo é coisa de fracos?

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