domingo, 8 de abril de 2018

A prisão filosófica da subjectividade cartesiana

Uma Viagem pela Filosofia em 101 Episódios
Nicholas Rescher
Tradução de Desidério Murcho
Quando tudo o que há nas premissas são factos acerca de nós próprios — as nossas regressões mentais, conexões, etc. — o raciocínio não pode só por si transportar nos para fora deste domínio. Quando operamos inteiramente a partir do domínio da subjectividade orientada para nós mesmos, então tudo o que podemos extrair com segurança daqui permanecerá subjectivo e sem acesso a uma ordem mundial objectivamente independente em si.


E assim Descartes rapidamente deu consigo encurralado num canto de onde só um apelo a Deus poderia possivelmente resgatá-lo. E os seus sucessores que — como a maior parte dos modernos — tinham relutância em pedir apoio filosófico a Deus, logo deram consigo a recorrer a expedientes problemáticos, como constituir gatos a partir de impressões de gatos. O estratagema cartesiano empurrou a filosofia moderna para a tarefa de construir uma realidade objectiva a partir de materiais subjectivos. E — nada surpreendentemente — isto revelou se impossível na prática. Aos olhos da posteridade, a viragem de Descartes para o interior do eu, aparentemente promissora, revelou-se um beco sem saída filosófico.

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