quinta-feira, 30 de julho de 2009

A MINHA RELAÇÃO COM O RIO TEJO

Começo esta crónica das minhas vivências com uma citação de Heraclito, frag. 12 e 91: “Para os que entram nos mesmos rios, outras e outras são as águas que correm por eles…Dispersam-se e…reúnem-se…vêm junto e junto fluiem…aproximam-se e afastam-se.”

Completei meio século de existência e, feita uma análise retrospectiva, dei por mim a pensar que, ao longo de todo este tempo, sempre mantive uma relação de proximidade com o rio Tejo.

Nasci em Azambuja que, há cinquenta anos atrás, mantinha uma relação diferente com o Tejo, não só através do tráfego marítimo das Fragatas, como também de uma mais intensa actividade piscatória neste rio.

Eu próprio, ainda com meses de vida, tive a experiência de navegar no Tejo. Os meus pais eram pescadores, cuja faina era no Tejo. Por isso, pouco após o meu nascimento, já andava com eles nas lides, deitado numa caixa à proa da bateira. Eram tempos difíceis.

Mais próximo de Lisboa, mantiveram a mesma actividade piscatória. Foi por esta época, tinha talvez 3 ou 4 anos, terei caído ao Tejo e fui salvo pelo meu pai. Ainda hoje me recordo do acontecimento, vendo as bolhas de água a passarem junto aos olhos.

Durante toda a minha infância e adolescência mantive esta relação com o Tejo. As minhas férias eram passadas em Valada, Escaropim e Azambuja, sempre com o rio Tejo e a Lezíria em fundo.

Já adolescente, fui estudar para a Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira mantendo a relação com o Tejo. Tendo familiares nos Avieiros, essa relação era ainda maior, com viagens frequentes nas bateiras. Aliás, foi no Tejo que aprendi a nadar.

Alistei-me como voluntário na Armada, passando vários anos em contacto com o Tejo. Até como desportista fiz várias travessias no Tejo, tais como a travessia em Honra de Batista Pereira, nadando entre Vila Franca de Xira e Alhandra.

Actualmente, vejo o Tejo da minha casa e no percurso que faço para o trabalho acompanho-o até ao seu estuário. Um aspecto interessante: comprei um quadro, que está exposto no meu consultório, cujo título é Maior do que um rio.

Termino parafraseando G. S. Kirk e J. E. Raven no comentário a Heraclito, autor que muito aprecio: a imagem do rio esclarece o género de unidade que depende da conservação da medida e do equilíbrio na mudança. O rio fornece uma imagem do equilíbrio dos entes que constituem o mundo.

domingo, 26 de julho de 2009

FINITUDE E CONSCIÊNCIA: UMA VISÃO DA CONDIÇÃO HUMANA

Considero que uma das características distintivas da condição humana é a sua finitude. Melhor, a consciência da sua finitude, pois sem essa consciência dificilmente poderíamos, sequer, falar em condição humana.

Desde que adquiriu consciência, não só da sua condição, mas sobretudo da sua finitude, o ser humano sempre procurou superar essa “falta” apelando para elementos sobre-humanos, diria mesmo sobrenaturais.

Os mitos terão sido, numa perspectiva sistemática, a primeira tentativa de responder às perguntas e anseios deste ser que, deste modo, procurava respostas apelando a um tempo primordial (in illo tempore), justamente devido à sua finitude.

Com o advento da Filosofia, nomeadamente a grega, o mito foi perdendo a sua importância, para dar lugar a teorias mais elaboradas, que remetem, por um lado para a Metafísica e, por outro lado, para a Teologia, mas cujo desfecho é um dualismo.

Perante a consciência da sua finitude, o ser humano recorre a esses dualismos como forma de colmatar a sua finitude. Um dos mais conhecidos é o dualismo antropológico, que separa o corpo da alma e procura a sua unidade num Absoluto, seja este uma realidade Metafísica ou entidade divina.

O que pretendo destacar é que o ser humano não precisa recorrer a dualismos, sejam eles cosmológicos, teológicos ou outros, pois a resposta que procura está nele próprio. Aliás, ele é o grande enigma para o qual se procura a resposta. As questões kantianas “Que posso saber?”, “Que devo fazer?” e “Que me é permitido esperar?” só têm sentido perante a derradeira e antropológica questão “Que é o homem?”

O Todo, que é o ser humano, não é compatível com abordagens dualistas. Contudo, devido à sua finitude, só dialecticamente alcançará esse Todo. Daí a necessidade de uma Aufhebung hegeliana, que progride a partir da dicotomia biológico/cultural, superada pela consciência de si.

terça-feira, 21 de julho de 2009

HERCULANO DE CARVALHO - ESCOLA DE EXCELÊNCIA

A Escola Secundária Professor Herculano de Carvalho está situada na zona Oriental de Lisboa, mais concretamente na Freguesia de Santa Maria dos Olivais, bem perto do Parque das Nações, onde se realizou a Expo 98. Está, portanto, bem localizada do ponto de vista geográfico.

Inaugurada em 1984, comemorou agora 25 anos. Inicialmente foi-lhe atribuído o nome Escola Secundária N.º 2 dos Olivais, o qual foi substituído pelo do actual Patrono. Esta é uma questão central como veremos mais adiante. Este facto, entre outros que julgo pertinentes, levou-me a escrever este texto.

Cheguei a esta Escola em 1989, para realizar o meu Estágio como Professor Estagiário do Grupo 10º B, o Grupo de Filosofia. Por lá continuei no Ano Lectivo seguinte. Em 1982 fui colocado na Escola Secundária de Santo André, no Barreiro, devido à profissionalização. Mas no ano seguinte já estava novamente na Herculano de Carvalho.

Habituei-me a ver a Herculano de Carvalho como uma Escola de Excelência e de Rigor. Aliás, este é um aspecto que se ouve junto da comunidade. É vulgar ouvir que esta Escola é exigente e com bom ensino. E a fama é transversal a toda a população. Mesmo entre docentes, como já vi na blogosfera.

Muita coisa mudou nestes 25 anos. E a Herculano também. A primeira grande transformação ocorreu durante o mandato do Ministro da Educação David Justino. A Herculano de Carvalho, que só tinha Ensino Secundário, passou a ter 3º ciclo de escolaridade, facto que alterou, e muito, o paradigma do "aluno tipo" até então vigente nesta Escola.

No decorrer do presente Ano Lectivo, nova mudança, esta muito mais profunda. A Escola Secundaria Vitorino Nemésio vai ser encerrada e a sua comunidade escolar vai ser transferida para a Herculano de Carvalho, que entretanto vai entrar em obras de remodelação.

E aqui chegados eis a questão. Em reunião de professores de ambas as Escolas, o actual Presidente da Comissão Administrativa Provisória deixou para breve a discussão em torno da mudança do nome do Patrono. Não sei o que acontecerá, mas sei que a Herculano de Carvalho ficará para sempre como Escola de Excelência.