terça-feira, 1 de setembro de 2009

O PERCURSO DO(S) MESTRE(S)

Estou nos últimos dias do mês de Agosto, em fim de férias. Vagueio pela casa com a cabeça cheia de ideias e o corpo de ociosidade. A Internet e a TV por cabo lá de casa avariaram. De repente, sem saber porquê, dou comigo a remexer nos livros da minha pequena biblioteca pessoal. Por um daqueles meros acasos (?) retiro um dos livros da estante. Trata-se da Totalidade e Contradição. Acerca da Dialéctica do Professor José Barata-Moura, editado pelos Livros Horizonte.

Fui aluno do Professor Barata-Moura no primeiro ano da Licenciatura em Filosofia, decorria o ano de 1984/85 na disciplina “Filosofia do Conhecimento”. Voltei a tê-lo como Professor num Curso de Especialização em Filosofia, em 1993, com o Tema “Dialéctica e Materialismo: Marx no texto e no contexto”. E uma outra vez, num dos Seminário do Mestrado, no tema “Marx e a ‘questão judaica’” em 1997/98.

Por esta época, andava a preparar a minha tese de Mestrado e à procura de orientador. O Professor Barata-Moura foi eleito Reitor da Universidade de Lisboa, e fiquei com o Professor Eduardo Chitas como Orientador da minha tese de Mestrado. No dia 28 de Junho de 2000 defendi a Dissertação apresentada à Universidade de Lisboa para obtenção do grau de Mestre em Filosofia com a tese Jean-Jacques Rousseau. Soberania e Liberdade ou acerca da liberdade individual em comunidade.

No júri, para além do meu orientador, Professor Eduardo Chitas, estava também o Professor Viriato Soromenho-Marques e o Professor José Esteves Pereira, este último da Universidade Nova de Lisboa e na qualidade de Presidente do Júri. Desse dia guardo algumas recordações vagas. Os nervos que tentava disfarçar escondendo o copo pelo qual bebia água, a troca não intencional do meu nome por parte do meu Orientador, uma pergunta de Kant feita pelo Professor Soromenho-Marques, os amigos e familiares a assistir, a secretária da Universidade no canto oposto a secretariar a acta.

Finalmente terminou a inquirição do Júri. Como é habitual nesta Universidade, saí juntamente com todos os convidados. Na sala de Mestrados ficou o Júri reunido. A espera teve fim quando a porta de abriu e o Professor Soromenho-Marques, que também foi meu Professor de Licenciatura e Mestrado deu a notícia: tinha obtido a classificação de Muito Bom por unanimidade. Seguiram-se os parabéns de amigos e familiares bem como do Júri, ao qual pedi uma dedicatória que escreveram num dos exemplares da minha tese, que guardo em casa. E assim, de breves momentos, aparentemente desconexos, se faz o percurso de um Mestre.

No mesmo dia em que escrevo esta crónica, tinha estado a ler os programas dos partidos políticos, em particular no respeitante à área da Educação, com vista às próximas eleições legislativas, das quais sairá o novo Governo. Isto vem a propósito do Professor Barata-Moura, assumido militante do PCP e de ter lido, deste mesmo partido, que uma das propostas era terminar o Processo de Bolonha para o Ensino Superior, segundo o qual os Mestrados passam a estar integrados, deixando de haver uma Licenciatura separada.

E dou por mim a pensar no meu percurso de Mestrado que, por si só, demorou 4 anos, sendo 2 anos só para a parte curricular. Já sem falar dos 4 anos de Licenciatura aos quais se juntaram mais 2 para o Ramo Educacional. Como diria um antigo e bem conhecido Primeiro-ministro, é só fazer as contas. Como estão diferentes os percursos dos Mestres. E saber eu que, no final da década de 80, andei a manifestar-me pelas ruas de Lisboa contra a situação desigual entre as Escolas Superiores de Educação (ESE) e as assim designadas Licenciaturas científicas de 4 anos. Agora, relativamente ao Processo de Bolonha, estão muitos estranhamente calados. Sinal dos tempos? Como diria o Poeta, “mudam-se os tempos muda-se a vontade”.

6 comentários:

Elenáro disse...

Os mestrados não passam a estar integrados. Os mestrados continuam mais ou menos a serem o mesmo.

Há cursos onde, por imposição das respectivas ordens, os cursos não são reconhecidos sem mestrado de bolonha. As universidades tiveram de recorrer aí ao "mestrado integrado".

Mas nada disso impede a mobilidade no 2º Ciclo de Bolonha (Mestrados) e nada obriga a que se faça um mestrado na nossa área especifica. De facto quem andou durante anos a tentar acabar um licenciatura de 4/5 anos, ver agora ter-se o mesmo grau apenas com 3 pode parecer desonesto. No entanto, as antigas licenciaturas, para o mercado interno continuam a ser uma mais valia e valem tanto como um mestrado de Bolonha em alguns casos.

Penso que no fundo, apenas houve um reajuste nos nomes. O resto ficou quase tudo na mesma.

José Moreira Tavares disse...

Agradeço a análise e o comentário. Terei de analisar os casos. Tanto quanto sei há ordens que estão contra. Contudo, penso que neste processo há mais do que um reajustamento de nomes.

Elenáro disse...

Há ordens que estão contra porque Bolonha não prevê as excepções. Medicina e Engenharia por exemplo, não faz sentido licenciaturas de 3 anos (que me perdoem os engenheiros técnicos).

Fica a faltar muita coisa importante para a profissão. Bolonha esqueceu-se disto.

jcerca disse...

É sempre bom a um professor evocar os "apertos de coração" vividos na qualidade de aluno. E é também agradável ver as referências evocativas que, na qualidade de aluno, faz a professores seus.
E a evocação que fez do Professor Viriato Soromenho-Marques torna-se para mim tanto mais agradáveis quando se trata de um professor meu conhecido, amigo e familiar.
José Cerca

José Moreira Tavares disse...

José Cerca

Grato pela vista e comentário. Tenho gratas recordações dos meus Professores. O Pofessor Soromenho-Marques foi e é uma referência para mim.

José Moreira Tavares disse...

Elenário

De acordo. Nem consigo imaginar o Processo de Bolonha aplicado a Medicina. E este não é seguramente o único caso.