sábado, 16 de agosto de 2008

AS CORES DA EMOÇÃO

O Diário de Notícias publicou na sua edição de 10 de Novembro de 2006 um artigo intitulado “Amarelo de cólera, vermelho de alegria”, no qual se revela o estudo “Expressão facial: a influência das cores na identificação e reconhecimento das emoções básicas”, realizado pelo Laboratório de Expressão Facial da Emoção, em Portugal. Como explicou o director do laboratório, Freitas-Magalhães, o objectivo da investigação foi perceber de que forma crianças e jovens percebem as emoções, e que cores associam instintivamente a cada uma.

Em termos metodológicos, foi constituída uma amostra significativa de 364 crianças (182 rapazes e 182 raparigas) com idades entre os seis e os dez anos e a frequentar o 1º ciclo do Ensino Básico, bem como 254 jovens (127 mulheres e 127 homens) com idades entre os 18 e os 25 anos, a frequentarem o Ensino Superior. As cores escolhidas foram o amarelo, laranja e vermelho (quentes), violeta, azul e verde (frias) e preto, branco e cinzento (neutras), e as emoções básicas em estudo foram a alegria, tristeza, cólera, medo, aversão, surpresa e desprezo.

As conclusões mostram que as crianças associam instintivamente as mesmas cores às mesmas emoções, sem qualquer diferença de género nessa escolha. Alegria e vermelho, cólera e amarelo, desprezo e cor-de-laranja no caso das cores quentes. Quanto às restantes cores, à tristeza associam o azul, à surpresa o branco e à aversão e medo o preto. Para os adultos já não é assim. À excepção da alegria e da cólera, a que associam exactamente a mesmas cores, os jovens adultos associam o violeta à tristeza, o cor-de-laranja à surpresa, o verde à aversão e o cinzento ao medo e ao desprezo. Aqui há diferenças significativas de género. As mulheres, à cólera associam o cinzento (em vez do amarelo), à tristeza o azul (em vez do violeta) e ao medo o preto (em vez do cinzento).

Numa perspectiva clássica, privilegiavam-se os processos cognitivos, tendo-se da emoção uma visão negativa. Emoção e pensamento eram inconciliáveis, considerando-se a primeira como obstáculo ao bom exercício das capacidades racionais. O racionalismo, consubstanciado na célebre máxima Cogito ergo sum, pode traduzir esse paradigma que nos conduz ao antropocentrismo do homo sapiens, entretanto posto em causa pelas três grandes descentrações: cosmológica (Copérnico), biológica (Darwin) e psicológica (Freud), não esquecendo os “mestres da suspeita” (Nietzsche e Marx).

Na actualidade, fruto das novas investigações levadas a cabo por neurocientistas, não se considera a emoção como um entrave ao pensamento. Esta é, em síntese, a tese de António Damásio, segundo a qual é absurdo separar cognição e emoção, na medida em que o funcionamento equilibrado da mente só é possível com o contributo da emoção. O estudo acima referido põe em destaque as reacções expressivas através da relação entre cores e emoções, contribuindo assim para a instauração de um novo paradigma antropológico, traduzido numa visão holistica e dialéctica da trilogia cognição, emoção e conação.

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