quarta-feira, 19 de agosto de 2009

SOLIPSISMO

O termo deriva, etimologicamente, do Latim solus, que significa só, e ipse, que significa o próprio; podemos traduzi-lo por só ele próprio. A conceptualização do termo implica “ipseidade”, o que nos conduz a uma perspectiva de egoísmo ou ensimesmamento, no sentido de vida ou costume de quem é solitário ou vive retiradamente, à maneira de quem queira cortar com a realidade circundante e viver em função da sua própria consciência. O termo designa também uma doutrina ou sistema filosófico que admite ser toda a existência experiência e que somos naturalmente o único objecto dessa experiência, isto é, reduz toda a realidade ao sujeito pensante.

O solipsismo reveste muitos matizes ao longo da história da filosofia, mas podemos resumi-los a três tendência fundamentais: solipsismo gnosiológico, segundo o qual não há justificação para afirmar o objecto fora da consciência, solipsismo metafísico, tendência a afirmar como ser único o do sujeito e, finalmente, solipsismo moral, que situa no sujeito a fonte de todas as normas morais. Seja qual for a tendência, as consequências são, genericamente, as seguintes: o sujeito fecha-se sobre si próprio e ignora, teoricamente, tudo o mais, embora a prática desminta esta posição teórica na relação com a realidade, seja esta a natural ou social.

Ficou historicamente conhecido o solipsismo cartesiano, quando o filósofo francês René Descartes afirma o primado da substância pensante (res cogitans) traduzida na célebre máxima “penso logo existo” (cogito ergo sum). Partindo do substancialismo cartesiano pode afirmar-se que Deus (res divina) é, do ponto de vista ontológico, a substância mais importante, mas, gnosiologicamente, a res cogitans é que tem a primazia. Contudo, não basta garantir o fundamento do Cogito, é preciso garantir o fundamento da própria existência. O argumento ontológico, garantindo a existência de Deus, garante a nossa existência e a própria veracidade da Sua existência, dando assim resposta ao solipsismo.

Podemos afirmar que na base do solipsismo está uma posição extrema, seja ela empírica ou idealista. As tentativas de mediação para estas posições extremas também são conhecidas. Ora, as posições extremas conduzem a visões dicotómicas que, a limite, podem conduzir a dogmatismos ou cepticismos, escudados em Metafísicas dualistas, que não têm em conta a vontade livre, traduzida numa visão holística e dialéctica da realidade, a qual é não só multifacetada como também está em constante devir, como bem o referiu Heraclito de Éfeso.

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