quarta-feira, 5 de agosto de 2009

ANIMAL INACABADO

Perante um título destes apetece fazer como o senhor de La Palisse e dizer que o animal inacabado é aquele que não está acabado. Mas a pergunta impõe-se: qual é, entre os animais, aquele que está inacabado e porquê? O assunto é sério e mereceu estudos aprofundados a nível científico e filosófico. Fernando Savater, filósofo contemporâneo, escreveu: “O ser humano conta com uma programação básica – biológica – mas deve autoprogramar-se como humano. […] Mesmo comparado com os seus parentes zoológicos mais próximos, oferece uma sensação de abertura de inacabamento: em suma, de extrema disponibilidade.”

O texto de Savater explicita a seguinte ideia: o ser humano tem de aprender o que a hereditariedade propicia a outras espécies. Inacabado, biologicamente desamparado, prematuro, o ser humano está aberto a múltiplas potencialidades. É por isso que a prematuridade do ser humano é uma vantagem. Como refere o autor: “ […] oferece uma sensação de abertura de inacabamento: em suma, de extrema disponibilidade.”. Isto remete-nos para dois temas: a) o ser humano é biologicamente inacabado; b) as vantagens da prematuridade biológica do ser humano.

Quanto ao primeiro tema, pode dizer-se que o inacabamento biológico está relacionado com a carência de respostas instintivas à maneira de um programa determinado que permita reagir na natureza, como as restantes espécie animais. É por isso que o ser humano é um animal social; ele necessita do grupo social para aprender, não só na infância, mais longa que a de outras espécies, mas também ao longo da vida. Este inacabamento tem vantagens, o que nos conduz ao segundo tema.

A imaturidade ou prematuridade biológica do ser humano subtrai-o à fixidez, instigando-o a desenvolver uma multiplicidade de condutas. A ausência de respostas definitivas e acabadas como as restantes espécies animais, leva o ser humano a desenvolver renovadas formas de actuação, traduzido numa plasticidade adaptativa. Como refere Savater: “O ser humano conta com uma programação básica – biológica – mas deve autoprogramar-se como humano.”

No plano físico, o ser humano apresenta um inacabamento biológico que se designa por neotonia. Este inacabamento biológico e a sua prematuridade são condição necessária para o processo de adaptação e desenvolvimento. Isto está bem presente no texto pois o desenvolvimento mais lento dá maior flexibilidade ou plasticidade, dado que nem todas as conexões estão “instaladas” no início da vida. De facto, a lentificação no ritmo de desenvolvimento, em particular na comparação com outras espécies, possibilitou a complexificação e individuação. A lentificação possibilita a complexidade e a individuação dos modos humanos de conduta.

1 comentário:

Tiago disse...

Boa noite,
Antes de mais muitos parabéns pelo excelente blog.

Gostava de lhe perguntar se a frase : " O ser humano é um ser biológicamente social" é de algum filósofo conhecido ou não.
Estou a fazer um trabalho sobre Comunicação e não sei se hei de referenciar a frase ou nao...

Mt obrigado
Fico a aguardar resposta,
(deixo o mail em caso de preferir responder para lá: tig_s_s@htmail.com)

Tiago