sexta-feira, 14 de agosto de 2009

TRABALHO

A palavra trabalho deriva etimologicamente do latim popular tripalus, que significa “três paus” e designava um instrumento utilizado para torturar. Da evolução semântica derivou a palavra tripaliare, literalmente “torturar”. Surge assim o termo trabalho para significar algo penoso, fatigante, uma vez que era uma condição pouco digna quando comparada à dos homens livres, dedicados à contemplação e ao ócio.

Como toda e qualquer realidade humana, também o trabalho passou por diferentes fases históricas. A sua evolução histórica começa com a divisão natural, na qual as tarefas se baseiam no sexo e na idade. Seguiu-se a primeira divisão social, através da separação em tarefas especializadas entre agricultores e pastores. Mais tarde, numa segunda divisão social, surgem os artesãos, ligados aos ofícios especializados no fabrico de instrumentos.

Desde o Esclavagismo até ao Capitalismo, passado pelo Servilismo e pelo Corporativismo, a visão negativista presente na etimologia latina foi dando lugar a uma nova concepção de trabalho, encarado como libertação, progresso e auto-realização. Alguns autores defendem que dignifica o ser humano. No final do século XIX e século XX assistimos a grandes transformações do trabalho, não só ao nível da técnica de produção, mas também como fenómeno e pratica social.

Em termos genéricos, trabalho significa toda e qualquer actividade de ocupação na qual despendemos grande parte da nossa vida. O ponto de vista sociológico, pelo contrário, define-o com realização de tarefas que envolvem dispêndio de esforço, seja este mental ou físico, cuja finalidade é a produção de bens e serviços para satisfazer necessidades humanas. Remunerado ou não, o trabalho desempenha um papel na condição humana; mesmo a ociosidade, apesar de apreciada, só se afirma dialecticamente a partir dele.

Defendo que o trabalho liberta. Não concordo com a máxima nazi de má memória Arbeit macht frei. Também não concordo com a libertação proposta pela dialéctica hegeliana, segundo a qual é pelo trabalho que o servo, antítese do senhor, consegue essa mesma libertação através da “consciência de si” (Selbstbewußtsein), dando origem ao “homem livre” (síntese). A minha concepção de trabalho está próxima da marxiana, não só pela sua visão dialéctica da história e pela praxis social, mas principalmente pela defesa da condição humana não alienada, o homem total.

5 comentários:

Elenáro disse...

Um post bastante interessante sem dúvida. Uma questão que se pode levantar com este post é até que ponto a definição origina de trabalho não voltou hoje a ter sentido.

Será que sim, será que não?

Elenáro disse...

Errata:

definição original

José Moreira Tavares disse...

Bem vindo ao meu blogue e agradeço o comentário. Respondendo à sua questão, o regresso à definição latina, o trabalho como algo penoso, está sempre na ordem do dia. Basta estar atento à realidade. Infelizmente, o trabalho escravo continua a ser um tema muito actual.

Elenáro disse...

Concordo inteiramente com a sua afirmação final. O neo-liberalismo não soube impor limites a si mesmo.

José Moreira Tavares disse...

Elenário

Nem mais. O neo-liberalismo é uma praga da contemporaneidade que urge irradicar, a bem do homem total que refiro no meu texto.